sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Índios da aldeia Renascer “Reconhecidos em 2012” dizem que estão acuados pelo eucalipto no município de Alcobaça


A ONU (Organização das Nações Unidas) considera que o modelo padrão de desenvolvimento sustentável deve ser economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo. Este último padrão, no entanto, parece estar sendo deixado de lado pelas multinacionais da celulose que atuam no entorno da comunidade do Bruno, localizada na zona rural do município de Alcobaça. Nesta região foi descoberto recentemente, um grupo de índios que está no local desde 1951. Reconhecida pela Funai somente em 2012, a Aldeia Indígena Renascer ocupa um pequeno pedaço de terra cercado de eucalipto por todos os lados.
As 30 famílias que moram na aldeia, da etnia Pataxó Hã Hã Hãe, vivem em um enclave no meio das plantações da Suzano e da Fibra, cercadas por arame farpado e vigiados pelos seguranças armados das duas empresas.  Se contabilizadas as comunidades nas regiões do Bruno e Igrejinha, são 126 famílias residentes no entorno, às margens da estrada vicinal que liga Teixeira a Caravelas, no entanto, a comunidade indígena está sediada em território de Alcobaça.
A presença constante de seguranças armados é confirmada tanto por moradores da aldeia, quanto da comunidade do Bruno. Os índios dizem que se sentem acuados e sujeitos a fugirem a qualquer momento das suas habitações naturais e ainda reclamam que estão cercados por um cinturão verde, formado por plantios de eucaliptos e as empresas nada fazem por eles com alguma ação social diante das obrigações de contrapartida sociail que as empresas deveriam dispensar em favor das comunidades tradicionais e ainda querem expulsá-los.
De acordo com o professor mestre Benedito de Souza Santos, docente de História e Sociologia na Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e Faculdade do Sul da Bahia (FASB), e que estuda a comunidade indígena em um trabalho de dissertação, os índios que integram a Aldeia Renascer são oriundos da Aldeia Caramuru, em Pau Brasil, mas chegaram à região no início da década de 1950, fugindo da perseguição a que estavam sendo submetidos.
“Logo que chegamos, o fazendeiro que era o dono desse lugar disse que podíamos usar um pedaço de terra para plantar. Nos estabelecemos por aqui e fizemos nossa lavoura”, conta a índia Maria Francina de Jesus, cujo pai foi um dos primeiros a se instalar no local, juntamente com a família.  Dessa pequena roça os moradores tiravam o próprio alimento e vendiam o que sobrava.
“A vida seguia pacata e a subsistência era garantida com o que plantávamos, até que as terras que ocupávamos, emprestadas pelo fazendeiro, foram vendidas às empresas de celulose. Nós achamos ruim, porque as empresas chegaram e arrancaram muita lavoura sem nos pedir licença. Meteram o maquinário para dentro e arrancaram as plantações e o coqueiral”, conta dona Maria Francina.
A antiga roça dos índios deu lugar às imensas plantações de eucalipto e, atualmente, está restrita a uma faixa de não mais do que mil metros quadrados. “Hoje em dia nosso espaço é só essa faixinha de terra. De um lado a Suzano e o outro lado a Fibria. Nós plantamos, arrancamos e comemos. Depois plantamos de novo e temos que esperar amadurecer, porque não temos espaço para plantar. Vivemos assim há anos, só por milagre de Deus”, diz a índia.
Segundo ela, a pequena faixa de terra onde atualmente está plantada mandioca foi “cedida” pelas empresas de celulose às famílias há menos de dois anos e consiste em uma área de recuo da plantação de eucalipto, depois que moradores da comunidade reclamaram que as imensas árvores estavam muito próximas das residências.  “Até dois anos atrás, o eucalipto era plantado praticamente na porta das casas da aldeia, tanto que quando ventava os galhos caíam no telhado da minha casa”, comenta dona Maria Francina.
De acordo com o professor mestre Benedito Souza, essa comunidade indígena foi reconhecida pela Funai somente em 2012. Antes, eram conhecidos como caboclos e utilizados como mão-de-obra nas primeiras plantações de eucalipto. Há aproximadamente cinco anos, quando passaram a reivindicar sua condição indígena, as empresas de celulose deram início a uma política de exclusão. “Os índios tiveram que deixar o local original onde haviam se estabelecido e acabaram restritos a uma pequena faixa de terra”, explica o professor. 

Fonte: Teixeira News

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